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Fotografias que retratam o Desemboque em 1966 - Acervo Jorge Alberto Nabut.

Visão parcial de Desemboque. A esquerda o Casarão Colonial, e do lado direito o prédio onde funciona a Escola do Desemboque. Foto: Virgínia Dolabela. 2005.

Foi sepultado em frente à porta da Igreja Matriz de Nossa Senhora do Desterro. Hoje seus restos mortais estão ao lado direito da Matriz de Nossa Senhora do Santíssimo Sacramento, marco oficial da fundação da cidade.

Em 1850, o antigo Arraial foi elevado à categoria de Vila pela lei nº472 de 31 de Maio. Entretanto 15 anos depois foi suprimida juntamente com a paróquia, sendo a sede da freguesia transferida para o município do Espírito Santo da Forquilha, atual Delfinópolis. Alguns anos depois, em 1870, novas modificações são efetuadas, voltando à sede da paróquia para Desemboque, através da lei nº. 1663, de 16 de Setembro, daquele ano.

Desemboque passou a figurar como distrito de Sacramento, reduzindo-se a denominação de Nossa Senhora do Desterro do Desemboque, pela lei nº. 843, de 07 de Setembro de 1923. A localidade passa hoje por fase de extrema decadência, correndo o risco de desaparecer inteiramente. Suas duas igrejas, a antiga Matriz de Nossa Senhora do Desterro e a Igreja de Nossa Senhora do Rosário foram tombadas pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais, em 1984. Nas poucas casinhas e nessas edificações religiosas que resistem ao processo de degradação; se encontram ainda os traços do velho povoado.

Casarão Colonial do Desemboque. Desde 1993 o casarão é tombado como Patrimônio Histórico do Município de Sacramento. Foto: Virgínia Dolabela. 2005.

Esgotado o garimpo no Desemboque, as pessoas procuravam novas regiões onde pudessem desenvolver a agricultura e a pecuária.

Desde 1812 perto de Ribeirão Lajeado já existia algumas casas e uma capela de Santo Antônio e São Sebastião onde foi morar, retirando uns 15 km, o sargento mor Antônio Eustáquio da Silva e Oliveira, primo do Cônego Hermógenes estabelecendo-se perto do afluente da margem esquerda do Rio Uberaba juntamente com outros moradores, iniciando a cidade Uberaba.

O Cônego exerceu vários cargos, tanto político como educador, ministrou aulas de latim, teologia dogmática e de moral, muitos de seus alunos chegaram a ser sacerdotes. Era procurado como jurisconsulto, exerceu o cargo de vereador, curador geral dos órfãos, advogado pro visionado. Foi Deputado na Assembléia Geral Legislativa, era homem firme em suas convicções, adepto intransigente das idéias conservadoras.

Era franco, hospitaleiro e obsequiador, sua casa era procurada por todos. Foi ele quem concorreu eficazmente, quando era Deputado Geral, para que sobre o Rio Grande, no ponto da Jaguara, o governo fizesse construir uma ponte de madeira, deixando as bases lançadas para após serem feitas pelo governo de São Paulo. Morreu de febre tifóide, começando a sentir-se mal quando rezava uma missa em Araxá, foi levado pelo seu escravo de confiança para o Desemboque onde queria morrer.

No início daquele século, surgiram novos conflitos entre autoridades goianas e mineiras sobre os limites, resultando na reincorporação, em 1816, do Julgado do Desemboque a capitania de Minas Gerais.

Em 1831, Cunha Mattos descreveu a localidade como um “templo paroquial e cinqüenta e oito casas”. O mesmo autor aponta a atividade de criação de gado como a principal fonte econômica do povoado, que indica o total declínio da mineração. Cinco anos depois, o Julgado foi suprimido, sendo seu território incorporado ao de Araxá. Em 1848, através da lei n 429, de 19 de Outubro a paróquia foi também suprimida, para logo depois ser restaurada.

Durante todo este período, destaca-se o memorável Padre Hermógenes Cassimiro Brunswick, vigário de Desemboque por mais de 40 anos. Seu papel no desenvolvimento do Arraial e na colonização efetiva da região merece destaque e o coloca como figura de importância capital na história do Triângulo Mineiro.

O capelão padre Hermógenes Cassimiro de Araújo Brunswick veio para o Desemboque acompanhando seu primo numa dessas incursões pelos sertões. Veio a exercer o cargo de Provisor, Vigário Geral, Visitador e Juiz dos Resíduos na paróquia do Desemboque, comarca Eclésiatica do Novo Sul, “Bispado de Goyaz” desde 19 de abril de 1814 até 26 de setembro de 1861, dia que veio a falecer.

Cônego Hermógenes era natural do Bispado de Mariana, seu avô veio de Portugal, casou-se na Bahia e estabeleceu residência no distrito de Nossa Senhora da Conceição do Mato Dentro, comarca do Serro Frio. Seu pai, capitão Ferreira, era pecuarista e agricultor abastado. Em 1800 vieram de mudança para a fazenda de São Basílio, da freguesia de Nossa Senhora do Desterro de Desemboque, onde ocupou o cargo de Juiz de Órfãos trienal.

Reza em documentos que Cônego fundou um oratório doméstico na fazenda de seu pai, o qual pediu ao Bispo de Goiás que pediu ao Rei D. João VI para autorizar a transformação do oratório em capela curada e do qual recebeu ordens e foi levada aos 24 de agosto de 1820. O Cônego, preocupado com as pessoas que viviam entre Desemboque e a Capela de Santo Antônio e São Sebastião de Uberaba, fundou exatamente no ponto divisor este oratório e depois capela curada, iniciando assim a atual cidade de Sacramento.

Distrito de Desemboque em 1966, (Matriz de N. Sra do Desterro)

Fotografia do acervo de Jorge Alberto Nabut

O Arraial floresceu nesse período, porém à medida que se aproximaram as últimas décadas do século, já se faziam sentir os sinais de decadências das lavras auríferas. A ruína da mineração trouxe o esvaziamento gradativo da povoação que se estabilizara, adotando a alternativa da agricultura e da criação de gado, a exemplo dos demais núcleos mineradores da região central.

Organizaram-se expedições para exploração de novas terras para a lavoura e criação de animais, que resultaram no estabelecimento de novos arraiais nas primeiras décadas do século XIX.

A fertilidade do solo, a abundância de aguadas e variedades da fauna e da flora atraiu habitantes de longínquas regiões e tornaram propício o assentamento de grandes contingente populacionais, povoados que deram origem a Uberaba, Uberlândia e outros municípios do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba.

A velha povoação do Desemboque, porém, não conseguiu retomar e consolidar seu desenvolvimento, passando, durante o século XIX, por situações de instabilidade administrativa, civil e eclesiástica.

 

Os esforços no sentido de destruir os agrupamentos de índios e negros vinham desde os anos 40. Os mais famosos quilombos como os do Ambrósio, do Canalho e da Samambaia, foram totalmente aniquilados nas campanhas de Bartolomeu Bueno do Prado, Inácio Correia Pamplona e Antonio Pires de Campos, empreendidas entre os anos 1742 a 1769. (TAUNAY, 1975, p. 245-250)

Em 1766 esta última vence os índios Araxá, desimpedindo a região e possibilitando as condições para a sua plena exploração.

Os Kaiapós também foram repelidos e praticamente exterminados, retirando-se muitos para o interior do Goiás. Os demais povos indígenas que habitavam os sertões da Farinha Podre mesclaram-se aos novos habitantes, parte deles retirando-se também para as terras ainda despovoadas, provavelmente mais a oeste.

Assim, a partir de 1760, após as primeiras campanhas vitoriosas, se dá a instalação efetiva do Arraial de Nossa Senhora do Desterro das cabeceiras do Rio das Velhas. Numerosos moradores de Tamanduá, Pitangui e São João Del Rei vêm se estabelecer na nova povoação, construindo várias casas e uma pequena igreja. Não se tem notícia precisas sobre a época de construção da capela e sua elevação à paróquia, sendo este um assunto controvertido, em face de insuficiência documental. Sabe-se comprovadamente que, antes de 1768, um padre franciscano lá exerceu funções, embora Pizarro não tenha encontrado nenhuma notícia anterior a essa data.

A povoação prospera consideravelmente e, a par disso, tornam-se, cada dia, mais conflituosas as pendências sobre os limites entre as duas capitanias.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A distância entre as localidades e os grandes centros administrativos propiciava relativa autonomia e liberdade, atraindo toda sorte de aventureiro que ali se viam mais a vontade para os negócios ilícitos e contrabando. As questões da imprecisão dos limites vinham, assim, facilitar desmandos e insubordinações ao controle fiscal, seja em relação ao governo Mineiro ou Goiano.

Incidentes entre autoridades e mineradores acabaram levando á anexação do território à capitania de Goiás. Tais disputas e esfregas foram incitadas pelo padre Marcus Freire de Carvalho e seu coadjutor Félix Soares da Silva, contrabandista e mesmo criminoso, que ali viviam da exploração do ouro e do comércio.

Apesar dos protestos de autoridades mineiras, o controle da povoação passou ao governo goiano, favorecido pela decretação da derrama em 1764, que propiciou as condições ideais de organização e sublevação dos moradores. Através de manobras do Padre Félix, a intervenção do governo goiano se efetiva, com a chegada ao arraial de tropas que expulsaram autoridades mineiras e assumiram o comando da povoação.

Desta forma, instalou-se em 1766, o Julgado de Nossa Senhora do Desterro do Desemboque, o que possibilitou novo fluxo populacional, com a vinda de novos moradores interessados nas condições menos rigorosas de controle fiscal.

O Julgado constituía de todo o território do rio das Velhas grande e todas as suas vertentes, do rio dos Dourados e todas as suas vertentes e do rio da Parnaíba e todas as suas vertentes.

 “As minas do Desemboque atingiram o apogeu de sua produção depois da criação do julgado, numa extensão de doze léguas a partir das cabeceiras do rio das velhas e uma de largura”. (Pontes, 1978; 60)

Fração do mapa: Mostrace neste mapa o julgado das cabeceiras do Rio das Velhas e parte da Capitania de Minas Gerais con a deviza de ambas as capitanias. Por José Joaquim da Rocha. 1780.

Mostrando a divisa das duas capitanias em linha vertical no alinhamento da Serra de Marcela e Serra dos Cristais.

 

Por volta da terceira ou quarta década do século XVIII, a bandeira liberada pelo guarda-mor Agostinho Nunes de Abreu e integrada pelos capitães Estanislau de Toledo Pisa e Bartolomeu Bueno do Prado descobre ouro nas imediações das cabeceiras do Rio das Velhas (atual Rio Araguari).

Fundaram um primeiro núcleo povoador, denominado Tabuleiro após transpor o rio São Francisco a margem esquerda de um grande rio que se deduz seja o das Velhas, logo depois abandonado em favor de um outro local a três léguas descendo a mesma margem que oferecia mais abundância de ouro, onde construiu uma Ermida devotada ao Senhor Bom Jesus ao redor da qual surgiu outra povoação chamada Arraial do Rio das Velhas. Esse núcleo, porém, pouco depois foi destruído pelos Kaiapós e somente mais tarde, as condições se tornaram favoráveis ao estabelecimento definitivo da povoação.

Desde há terceira década, o governo mineiro vinha concedendo sesmarias naquela área, mas sua instalação efetiva era inviabilizada pela presença de grupos indígenas e de quilombolas, que travavam lutas sangrentas na tentativa de impedir a “colonização pelos Brancos”.

No final dos anos 40, os limites das capitanias de Minas e Goiás foram confirmados por Ordem-Régia assinada por D.João V, ficando estabelecidas as divisas pelas serras da Canastra e da Marcela, incluindo as cabeceiras do Rio das Velhas, tornando-se a linha do Rio São Marcos.

Para eliminar os inconvenientes dos ataques a expedições e povoações, e permitir a posse e ocupação da região, autoridades Mineiras e grupos exploradores empreenderam uma série de campanhas saídas de São João Del Rei e Tamanduá, atual Itapecerica (estado de Minas Gerais)

Nas primeiras décadas do século XVIII, descobriu-se o ouro Goiano e, já em 1722, estava aberta a estrada que ficou conhecida pelo nome de Anhanguera, por ter sido este bandeirante um dos primeiros a penetrar aquelas remotas paragens. O caminho abre espaço para o afluxo de levas de aventureiros, atraídos pela possibilidade da riqueza fácil propiciada pela posse do precioso metal. (PONTES, 1970)

Afamados sertanistas trilharam tais caminhos, a exemplo de Antônio Pires de Campos, cujo nome se liga a descoberta da região. Já em 1718 esses bandeirantes atingiram o Rio Cuiabá, no Mato Grosso, em expedição de caça aos índios, com ele empreendendo grandes combates e tentativas de organização e controle de aldeias.

Outro famoso bandeirante, Bartolomeu Bueno da Silva, o filho de Anhanguera, atravessara o Jeticaí (Rio Grande), fazendo escala pela Ilha da Espinha, e alcançando as terras da Farinha Podre, em território Kaiapó, transpõe o vau do roncador, no Uberaba legítimo, em direção ao Rio das Abelhas, costeia a picada de Goiás Paulista, atingindo o Rio das Pedras, e daí o Paranaíba. (PONTES, 1970)

A exploração efetiva do território, porém, somente se deu a partir de meados do século XVIII. A fixação do Arraial de Nossa Senhora do Desterro das cabeceiras do Rio das Velhas, (atual Rio Araguari), desempenha papel capital nesse processo, tendo resultado do assentamento de colonizadores e exploradores provenientes, principalmente, da Capitania de Minas.

A povoação constituiu o grande pólo irradiador de expedições colonizadoras para toda extensão da Farinha Podre e seu surgimento ligou-se não somente à exploração de ouro e diamantes ali encontrados, mas também a necessidade de um ponto estratégico que facilitasse a ligação e o comércio com a capitania de Goiás.

 

Fração do mapa: Mappa da Conquista do Mestre de Campo Ignácio Correya Pamplona, Regente Chefe da Legião. Cerca de 1784. Este mapa foi concluído após expedição iniciada em 1759, demonstrando o caminho da Picada de Goiás, passando pela Serra da Canastra, chegando até Desemboque (mostrado no mapa como Arraial do Rio das Velhas).

“(...) No segundo documento, de 22 de setembro de 1764: ´faço saber aos que este meu bando virem, ou dele notícias tiverem, que reconhecendo compreendido dentro da demarcação deste governo das Minas Gerais até a SERRA que termina no rio Grande, em O SÍTIO CHAMADO DESEMBOQUE. Por este trecho, ele nos dá a origem do topônimo – Desemboque do Rio Grande, e não Desemboque de Estradas. In TEIXEIRA, Edelweiss. 2001, pág 68.

Igreja de N.Sra. do Desterro, 1918, aprox.  (1) foto de Antonio Rispoli, in Memória Fotográfica de Sacramento – Cerchi, Carlos Alberto

HISTÓRICO DO MUNICÍPIO DE SACRAMENTO - MG
 

1 - DESEMBOQUE

 

SERTÃO DA FARINHA PODRE, fato curioso e folclórico que marcou para sempre estas paragens, um saco de farinha deixado como reserva para a volta de uma expedição exploradora por volta dos finais do séc. XVII ou início do séc. XVIII, que encontrado estragado, tornou conhecida esta grande mesopotâmia hoje nosso Triângulo Mineiro. Compreendia terras férteis e numerosos e caudalosos cursos d’água, onde vislumbrava-se promessa de muitas riquezas através dos metais e pedras preciosas, habitada por diversas tribos indígenas e grandes e resistentes quilombos.

“Entre os diversos povos indígenas que habitavam essa região citam-se os Bororo, Pareci, Karajá, Araxá e, principalmente os Kaiapó, que maior resistência ofereceu à colonização. Esses povos Kaiapó, classificados por Darcy Ribeiro como meridionais, eram de família Jê e se dividiam em numerosas tribos, ocupando um vasto território denominado Caiapônia.” (Ribeiro, Darcy in Século 30. 1989).

Distrito de Desemboque em 1966, (Matriz de N. Sra do Desterro) Fotografia do acervo de Jorge Alberto Nabut

Quadro Resumo da Evolução Eclesiástica de Desemboque.

    Período de 1751 a 1759 – após três anos de mineração o Tabuleiro foi destruído em 1751 e em 1759 fala-se em sitio do Desemboque. 1760 a 1764 na administração civil e religiosa o Desemboque fica ligado a Tamanduá/Itapecerica e a Mariana. Setor do Bispado de Minas. Constrói o arraial e ergue a capela. Na administração civil ate agosto de 1764 o arraial do Desemboque esteve ligado à vila de São José do Rio das Mortes/Tiradentes. Quanto à administração religiosa a capela passa para o Bispado de São Paulo ate 1761 e após fica filiada a Matriz de Jacui.

    Em 1764, o governador de Minas Luiz Diogo chega a Jacui e toma providencias para instalar uma Tendência Comissária e um registro fiscal.

    Em 1765, chega ao Desemboque o mestre de campo Inácio Correia de Pamplona onde toma providencia para nomeação de autoridade, originando a criação do julgado do Desemboque em Março de 1766 por causa da derrama.

    Em 1767, a paróquia do Desemboque volta para o Bispado de Mariana.

Em 1775 o Vigário de São Bento de Tamanduá designa um capelão para o Desemboque, a prelazia de Goiás reage, confirmado a provisão eclesiástica de 1768 que seria o Vigário Antonio Pedro Xavier.

    Dizem os historiográficos que foi o padre Felix foi autor da mudança do orago da primeira capela do Desemboque do senhor Bom Jesus do Rio das Abelhas para a Nossa Senhora do Desterro, o padre Felix foi capelão no Desemboque nos fins de 1761 a 1764 e até 1767, como Vigário. A fim de vingar de ter sido preso em Mariana em janeiro de 1765, voltou ao Desemboque incitou o povo a pedir a anexação ao governo goiano e apagar as ligações com Minas.

    A capela que havia sido construída de taipa de pilão foi acrescida, presumivelmente após 1763, sendo aproveitada a capela mor e adicionando um corpo maior, atual nave, tornando-a o que é hoje.

Segundo Edelweiss Teixeira, em documentos do Arquivo Mineiro, Cônego Hermógenes em 1829, informa que “a Matriz é toda de pedra, menos a capela-mor que é de taipa de pilão”. (Teixeira, 2001. 81)

Igreja de N.Sra. do Desterro, 1918, aprox.  (1) foto de Antonio Rispoli, in Memória Fotográfica de Sacramento – Cerchi, Carlos Alberto

2 – SACRAMENTO

 

O fundador de nossa cidade pediu ao seu pai para adquirir as terras de Maria dada como ausente e levadas a leilão pelos seus irmãos. Maria era filha de Thereza Maria de Jesus, proprietária da fazenda Borá que falecendo deixou nove herdeiros. As terras de Maria eram os quinhões onde hoje se localiza nossa cidade.

O Cônego Hermógenes Cassimiro de Araújo Brunswick, em 1812 junto com o Major Antonio Eustáquio da Silva havia deixado o Desemboque vindo para o Sertão do Novo Sul a oeste e chegando às margens do Ribeirão das Abelhas do Borá encontraram um grupo de garimpeiros. Auxiliado pelos mesmos, o Cônego levantou um cruzeiro à margem esquerda do ribeirão e rezou a primeira missa e em torno desse cruzeiro se formou um pequeno arraial.

Em 1819, o Cônego construiu o Oratório com paredes reforçadas nas terras de Maria ausente. Quando foram a leilão o pai do Cônego as adquiriu e doou para o filho. Com a doação das terras o Oratório tornou-se Capela Curada do Santíssimo Sacramento apresentado pelo Patrocínio de Maria.

Amir Salomão Jacob em seu livro “As terras de Maria ausente” fez um trabalho de resgate da documentação original das certidões de fundação da nossa cidade.

Em torno da Capela do Santíssimo Sacramento com o Patrocínio de Maria foram sendo construídas casas e casebres e em volta da igreja havia o cemitério.

Em 3 de Julho de 1857, a lei provincial nº. 804 criou a Freguesia de Nossa Senhora do Patrocínio do Santíssimo Sacramento e em 13 de Setembro de 1870, a lei provincial nº. 1637 criou a Vila do Santíssimo Sacramento.

Como toda cidade mineira, Sacramento teve uma enorme influência conservadora. Os casamentos eram arranjados pelos pais dos noivos que muitas vezes nem se conheciam. A vida era levada com muito sacrifício, as mulheres iam para o Ribeirão Borá para lavarem as roupas; o café, o milho, o arroz, eram limpos no pilão de madeira. Algumas pessoas de mais posses dispunham de escravos para esses trabalhos.

As ruas com casas de alicerces de pedras tapiocangas, aplainadas com machado, paredes de taipa de enchimento ou adobe, a caiação das paredes era feita com piçarra misturada no leite com água. Janelas, portas, portais e batentes eram de madeira, com os esteios de aroeiras, madeira resistente. Com a falta de calçamento, quando chovia, tudo virava uma lama só.

As ruas principais chamavam-se Avenida Municipal e Rua Principal, hoje denominada avenidas Benedito Valadares e Visconde do Rio Branco.

Família do Major Mauricio Vieira. Fotografia de 1879. Irmãos Passig.

Coleção Particular de Virginia Dolabela

Quadro Resumo da Evolução Política de Sacramento.

Distrito de Santíssimo Sacramento, município de Uberaba, por lei n.º 125 de 13/03/1939. Incorporado ao município de Araxá por respectiva n.º 405 de 12/10/1848. Paróquia por lei n.º 804 de 03/07/1857. Município e vila por lei n.º 1637 de 13/10/1870, compreendendo o distrito da sede e Espírito Santo da Forquilha, e também São João Batista da Serra da Canastra, em face da lei n.º 1893 de 1872. Criado em 1872 o distrito de São Miguel da Ponte Nova. Perde em 1890 o distrito de Espírito Santo da Forquilha (atual Delfinópolis), criado por lei de municipal de 1892 o distrito de Conquista.  Figura como nome atual no Quadro de divisão administrativa de 1903, pelo qual compreende o distrito da sede, Conquista, Desemboque, Jaguara, São Francisco da Ponte Alta, São Miguel da Ponte Nova (atual. Nova Ponte) e São João Batista da Serra da Canastra. O distrito de Jaguara não figura no quadro da divisão administrativa de 1911: é apenas o conjunto de edificações da estação ferroviária. Perde em 1911 os distritos de Conquista e são Francisco da Ponte Alta (atual Jubaí) Adquire em 1938 o distrito de Tapira e perde os de São João Batista da Serra da Canastra e Nova Ponte. Perde em 1962 o distrito de Tapira.

Aspectos da vida em Sacramento na última década do século XIX

O Sr. Franklin Vieira (no centro de botas altas e chapéu tipo sombrero) e sua comitiva. Casarão já demolido que se localizava na região conhecida como Areão.

Coleção Particular de Virgínia Dolabela.

Major Lima, responsável pela construção do Paço Municipal.

Coleção Particular de Virgínia Dolabela.

Cel. José Afonso de Almeida (1863 – 1941). Agente Executivo e Presidente da Câmara de 1905 a 1921. Foto: João Bianchi.

In CERCHI, Carlos Alberto. 2004.

No ano de 1831 tem-se noticia de 1762 habitantes no Distrito do Santíssimo Sacramento, onde 794 eram consideradas livres, 562 eram escravos ou cativos e 27 pessoas eram forros ou libertos.

O Cônego Hermógenes faleceu em 1861 e a partir de então o Desemboque vai perdendo sua importância, elevando o Distrito do Santíssimo Sacramento à categoria de cidade, a 03 (três) de junho de 1876 e sendo instalada a comarca em 27 de abril de 1891.

Em seu livro Eurípedes, o homem e a missão, Novelino, 1979, relatam-nos sobre a antiga Sacramento, através de fatos orais que a autora conseguiu com depoimentos de pessoas que viveram na época. A autora leva-nos a imaginar a vida que as pessoas tinham, muito trabalho, pouco dinheiro. Quem tinha escravos e terras tinha seu capital empregado nisto, sendo que a maioria tinha que trabalhar para sobreviver, montar pequenos negócios, carpinteiro, alfaiate, ferreiro, lavrador, comerciante, carreiro, seleiro, sapateiro, marceneiro, eram os profissionais mais comuns.

O progresso da cidade veio com o plantio do café e a abertura do trânsito pela ponte de Jaguara, em 1861, sobre o Rio Grande, ligando a região à Província de São Paulo. Essa ponte foi usada até a companhia Mogiana de Estradas de Ferro e Navegação fazer uma nova ponte, inaugurada em março de 1888.

“A desativação do ramal da Mogiana e o precário estado de conservação da ponte revelam o desleixo e abandono a que foram submetidas as ferrovias brasileiras a partir da segunda metade do século XX”.

Ponte de Jaguara sobre o Rio Grande. Fotografia pertencente ao Museu da Mogiana em Jundiaí SP.

 Fotografia de Carlos Alberto Cerchi datada em 04 de julho de 1999. in CERCHI, Carlos Alberto. 2004.

A Companhia Mogiana de Estradas de Ferro foi fundada no início da década de 1870, que, pela Lei Provincial nº. 14, de 19/06/1873 obteve a concessão para construir o trecho Campinas - Mogi-Mirim, ramal de Amparo, e prolongamento até as margens do Rio Grande. A construção dos primeiros trechos teve início em 02 de dezembro de 1872, antes mesmo da assinatura do contrato com o Governo Imperial a 19 de junho de 1873. Em 03/03/1875, inaugura o primeiro trecho até Jaguariúna, e em 27/08/1875 chega a Mogi-Mirim; depois em Casa Branca, inaugurada em 14/01/1878, após então, São Simão, em 1883. Em 23 de novembro de 1883, os trilhos da Mogiana atingiram Ribeirão Preto, a primeira composição foi recebida com grande entusiasmo.

Avançando rumo ao primitivo Porto de Desemboque (Rifaina), a Mogiana chegou a Batatais em 1886 e, no ano seguinte, a Franca, inaugurada em 11/04/1887. Em 1888 transpôs o Rio Grande, inaugurando a ESTAÇÃO DA JAGUARA, em 05 de março de 1888. Em 23/04/1889 chega à Uberaba. Após um intervalo maior de tempo, o trecho até Uberlândia e Araguari foi construído e esta estação foi inaugurada em 15/11/1896, formando assim a Linha-tronco Campinas – Araguari.

O trecho até o Rio Grande recebia o nome de Linha do Rio Grande e após cruzá-lo passava a se denominar Linha do Catalão. Em 1970 as duas linhas foram seccionadas, com a construção da barragem de Jaguará. O trecho a partir de Pedregulho foi extinto, e logo depois, o trecho a partir de Franca também o foi. Embora já em território mineiro, pouco além da travessia do Rio Grande, a estação da Jaguara era considerada a última estação da Linha do Rio Grande, nela se iniciava a Linha do Catalão, e após a desativação do trecho Pedregulho - Jaguara, passou a ser a ponta de linha do trecho Uberaba - Jaguara.

Estação Ferroviária da Jaguara.

Foto: Bianchi. Início do séc.XX

Coleção Brasilino de Carvalho.

Mapa do município de Sacramento datado em 1924, onde se verifica a demarcação das divisas e a linha férrea. “COMISSÃO MINEIRA DO CENTENÁRIO – BELLO HORIZONTE – IV – 1924. DIREITOS RESERVADOS – IMPR. NA LITH. HARTMANN – JUIZ DE FÓRA.”

Acervo Arquivo Público Municipal de Sacramento.

Prédio da Estação  Jaguara  e Armazéns.

Foto: Virgínia Dolabela. 2005.

A Estação está desativada desde 1976, quando o tráfego de trens entre Uberaba e esta estação foi desativado. Com os trens de passageiros cancelados, a linha foi desativada mesmo para cargas poucos anos depois.

 Os bondes de Sacramento foram implantados em 1913, pela iniciativa do Coronel José Afonso de Almeida, Agente Executivo da Câmara de Sacramento nas duas primeiras décadas do século XX.  Nesta época o Agente Executivo aplicou todo produto da arrecadação municipal nas obras de utilidades públicas como implantação da Empresa Elétrica Municipal, a canalização de água potável e mudança do cemitério para o final da rua da estação, atual Rua Abrão Abdão Amui. A Companhia de Ferro Mogiana recebia da Estação Ferroviária de jaguara todo o produto de exportação, principalmente o café, da cidade e região através da Estação de Sacramento-Cipó.

A história de Sacramento foi escrita com suor e o trabalho dos vários políticos e trabalhadores, tanto rurais como municipais. “O que mais engrandece este sertão é o poder de ser navegado, importar e exportar o que quiser. Dessa forma, podemos perceber a riqueza de nossas águas e terras.”

Os bondes elétricos chegaram para transpor o desafio dos acidentes geográficos pela empresa Bromberg e Companhia, empresa alemã que aceitou o desafio de implantar na cidade os bondes elétricos, ligando a cidade de Sacramento à Estação do Cipó, que ficava às margens do Rio Grande, possibilitando assim que inúmeros produtos e passageiros pudessem chegar desta forma, mais rapidamente, a Estação do Cipó. A Estrada de Ferro Mogiana interligava várias cidades e povoados da região como; Conquista, Guaxima, Engenheiro Lisboa, Tancredo França, Peirópolis, Amoroso Costa e Uberaba, ligando também as cidades do estado de São Paulo sobre a Ponte de Jaguara transpondo o Rio Grande para chegar até o Estado de São Paulo, nas cidades de Rifaina, Pedregulho, Cristais, Franca, Ribeirão Preto, Campinas, Jundiaí e São Paulo.

Estação dos Bondes atual Palácio das Artes. “Estação da linha elétrica municipal de Sacramento.” In CAPRI, Roberto. 1916.

“Bond electrico passando em um grande corte denominado `Corte d’Água´”. In CAPRI, Roberto. 1916.

Os bondes elétricos foram desativados, provavelmente, no final de 1937 e começo de 1938, sendo todo o seu patrimônio leiloado. Hoje a antiga Estação dos Bondes se encontra tombada e restaurada, abrigando o Palácio das Artes.

Os bondes eram servidos de eletricidade pela Usina Cajuru, que forneceu energia a cidade durante 50 anos até ser desativada, em 1963, no governo de José Zago Filho, quando se dá a ativação da CEMIG.

A ocupação de nossa região como em todo o Brasil se fez com a utilização da tropa de animais e carros de bois. Fazia-se transporte também via fluvial como no caso da travessia do Rio Grande por barcos e balsas.

Com o advento do automobilismo inaugura-se a Empresa Auto-Viação que passa a fazer o transporte de mercadorias e turistas para a cidade de Araxá. A estrada de rodagem foi executada em 1914 com trabalhadores dos dois municípios e após, a manutenção e conservação ficou a cargo da Empresa Auto-Viação. Esta recebera a concessão de exploração da estrada até 1928 quando o Estado a tornou pública, favorecendo assim, outras iniciativas no transporte de carga e de passageiros. As estradas vão sendo assim abertas e conservadas para a melhoria do transito dos automóveis e caminhões.

A Usina Cajuru, responsável pelo fornecimento de energia para Sacramento e Conquista, dista da cidade 5 km e localiza-se no Ribeirão Borá, local onde se forma a cachoeira conhecida como do Cajuru.

Construída pela empresa Bromberg & Cia, teve como mestres imigrantes portugueses com pratica em serviços de pedras, sendo suas paredes de uma solidez que o tempo até hoje, atesta a sua durabilidade. Fornecia 600KW de energia elétrica gerada por duas turbinas centrifugas com reguladores de água, ligados a dois geradores monofásicos de 200KV cada um. À frente dos serviços de construção e implantação da usina estiveram os engenheiros mecânicos alemães Carlos K. Kovrsa e Herich von Ockel,da empreiteira Bromberg & Cia.

Construção da Usina Cajuru, meados do ano de 1912. Coleção Particular José Afonso Borges.

Usina Cajuru no ano de 2000. Foto: Carlos Alberto Cerchi, 11 de novembro de 2000. In CERCHI, Carlos Alberto. 2004.

Hoje, a Usina Cajuru encontra-se restaurada e tombada como patrimônio histórico da cidade, reativada desde 2005, através de concessão para a empresa Eco-Vida.

Com a produção e expansão do café o incremento da imigração no interior do país foi intensificado, sendo que entre 1870 e 1920 Minas Gerais recebeu um número elevado de imigrantes, principalmente italianos. Esses imigrantes na sua grande maioria desembarcavam no porto de Santos e transpunham o Rio Grande pela Estação de Jaguara. Com o imigrante o município teve um avanço econômico muito significativo, tanto nas construções como casas comerciais de diversos ramos, máquinas de beneficiar arroz e café, etc., fazendo com que a cidade viesse a ter certas regalias no começo do século XX. As principais famílias que ainda continuam a trabalhar para o progresso da cidade são: Cerchi, Bonatti, Bizinoto, Manzan, Pavanelli, Gobbo, Scalon e outras.

Vários filhos de imigrantes se tornaram grandes empreendedores contribuindo para o desenvolvimento de Sacramento como o Sr. Ferrúcio Bonatti que foi político e construtor, empresário responsável pela instalação da firma Bonargila Ltda. em 1962 que explorava e beneficiava a argila betonítica. Hoje a empresa explora e beneficia o caulim, tendo como mercado consumidor as indústrias de solados de borrachas para calçados. Outro imigrante que muito contribui foi o Sr. Leonildo Cerchi, um dos fundadores dos Laticínios Scala.  Veio como  imigrante italiano e seus filhos continuaram e ampliaram suas empresas, após seu falecimento. 

Foto 01: “Leonildo (Nino) L. Cerchi (1920-2002) com o troféu de primeiro lugar (para o queijo parmesão) no XXIV Concurso Nacional de Produtos Lácticos em 1997”. Foto Agmar Borges. In CERCHI, Carlos Alberto. 2004. pág 151.

Foto 02: Ferrúcio Bonatti em 2005. Foto: Coleção Particular Orlinda de Melo Crema.

Como tudo passa por transformações, Sacramento não pode deixar de seguir também seu curso de progresso. Progresso este que muitas vezes traz demolições e modificações que geram mudanças tão grandes. A Matriz passou por varias reformas desde sua fundação. Em 1876, os muros que serviam para abrigar o cemitério foram retirados e outro cemitério foi feito, buscando uma melhor salubridade. As pequenas reformas feitas até o começo do século XX são bem simples, como compra de alfaias e ornamentos. De humilde capela foi erguida uma igreja com paredes fortes e seguras, um altar de mármore foi colocado em uma reforma de 1902 e através do tempo foram erguidas as torres. Uma para o relógio (1914) e depois outra torre para o sino, em 1920 pelo senhor Jácomo Pavanelli, imigrante italiano e construtor. Várias foram as reformas que passou nossa Matriz, destituindo de sua beleza altares e painéis feitos durante as reformas. Esses painéis foram feitos por um pintor imigrante suíço vindo do sul do país de nome Paul Kohl. A reforma de 1972 retirou colunas e altares, construiu no fundo uma sacristia, vitrais foram retirados, ficando apenas o do fundo que encoberto pela sacristia só o vemos por fora e representa a Nossa Senhora do Patrocínio do Santíssimo Sacramento.  As últimas alterações tiraram o Oratório do Santíssimo Sacramento da parte central do altar, para a lateral esquerda e em 2005 foram colocados mosaicos de vidros, como vitrais, nas janelas.

As ruas foram se transformando também, um alinhamento era necessário e a ponte que ligava o centro da cidade com o bairro Rosário foi ampliada e modernizada. As ruas centrais que partem da Igreja Matriz, pólo fundador da cidade, saindo da frente da igreja passaram a se denominar no lado direito, sentido horizontal Avenida Benedito Valadares.

Do lado esquerdo continuou sendo São Pedro. Em frente à igreja a praça que já teve vários nomes como Praça Municipal, Parque Franklin Vieira,  hoje recebe o nome de praça Getúlio Vargas, homenagem ao presidente do Brasil. Às costas da igreja do lado direito a antiga Rua Principal passou a se denominar Visconde do Rio Branco, do lado esquerdo a rua do Comércio é hoje a avenida Clemente Araújo.

Partindo das costas da Matriz em sentido vertical havia três ruas mais importantes: a João Pinheiro que muda o nome para Avenida Vigário Paixão, homenagem ao vigário que foi também vereador no início do século XX. A 12 de outubro que recebe o nome de Avenida Antonio Carlos em 1929 pela presença do então presidente do Estado de Minas, e a 15 de novembro que recebe o nome de Rua Major Lima, esta rua ligava a Visconde do Rio Branco a Praça dos Antepassados onde existia o Cemitério anterior, desativado no começo do século XX, com a inauguração do cemitério que ainda é usado. Na época ficava fora da cidade que hoje cresceu tanto que praticamente está quase no centro. A rua que liga o centro ao cemitério se chamou durante muito tempo rua da Estação, pois a estação dos Bondes Elétricos para a Estação Sacramento, no Cipó, ficava também nesta rua que hoje recebe os nomes de Joaquim Murtinho e Avenida Abraão Abdão Amui, ligando os bairros periféricos que se desenvolveram a partir da década de oitenta do século XX. Os bairros são Conjunto Habitacional José Sebastião de Almeida, Cajuru e João XXIII.

Abaixo da praça da matriz existe a Rua Capitão Ferreira, por ter sido ali a sede da sua fazenda. Esta rua liga á Avenida Benedito Valadares, principal acesso ao bairro do Rosário e bairros periféricos desenvolvidos também no final do século XX, sendo Conjunto Habitacional Paulo Cervato I, II, III; Parque do Sabiá, Perpétuo Socorro.  A Rua Tiradentes fica após a Praça do Rosário, que recebeu o nome de Praça Benedito Valadares, interventor de Minas no governo ditatorial de Getúlio Vargas.

“Visão parcial aérea da cidade” in FERREIRA, Jurandir Pires. 1959. Pág. 105.

Visão parcial do município c. 1940. Foto: João Bianchi, do calendário dos Laticínios Scala do ano de 2005.

Av. Municipal , atual Av. Benedito Valadares c.1940 . Foto: João Bianchi do calendário dos Laticínios Scala do ano de 2005.

As ruas que surgiram após a década de 20 a 30, às costas da Matriz são, na horizontal Capitão Borges e Cel José Afonso de Almeida. As ruas que davam acesso as entradas eram Uberaba e Santo Antonio, que hoje ainda é rua Uberaba, ligando os bairros do Perpétuo Socorro e Paulo Cervato, conhecido popularmente como Areão. A Santo Antonio deu origem ao bairro do mesmo nome e recebeu o nome de Avenida Major Ataliba José da Cunha. A Rua Cônego Julião Nunes foi a antiga General Damião e liga os bairros periféricos Maria Rosa, São Geraldo e Morada do Sol.

No bairro do Rosário existem ruas que descem do lado esquerdo da Igreja e que receberam os nomes de Rui Barbosa , Silvio Crema e Aldo Fernandes interligando assim o bairro Rosário com o Bairro de Lourdes e a atual praça Dr. José Zago Filho, onde ficava a estação, hoje Palácio das Artes. Hoje o traçado antigo foi bem ampliado com muitos loteamentos e conjuntos habitacionais que compreendem os bairros periféricos aumentando assim a cidade. 

No setor de saúde a Santa Casa de Misericórdia foi construída, provavelmente, entre 1942 e 1944. O prefeito Dr. José Valadares da Fonseca, preocupado com a saúde de nossa população construiu o primeiro centro de saúde, o posto de higiene, em 1947. Este posto foi instalado em um local acima da Santa Casa e depois foi transferido para a Rua Comendador Machado, recebendo o nome de Dr Clemente Vieira Araújo no governo do prefeito Dr. José Alberto Bernardes Borges, no ano de 1978. Mais tarde surgiram novos postos de saúde como o Dr. Hermocrates Correa, o Luiz Giani, a Unidade Básica de Saúde e o Centro de Referência da Saúde, contando também com postos de saúde nas principais comunidades rurais.

Nas costas da Matriz, na vertical a Av. Vigário Paixão, antiga Av. João Pinheiro.

Acervo Arquivo Municipal de Sacramento. 1997.

Do lado esquerdo a Igreja Matriz de Nossa Senhora do Patrocínio do Santíssimo Sacramento, na sua frente e acima a Avenida Benedito Valadares, antiga Avenida Municipal, na sua continuação a atual Rua São Pedro, ao centro a Praça Getúlio Vargas, do seu lado direito a Rua Capitão Ferreira. Acervo Arquivo Municipal de Sacramento 1997.

Na educação e na religião, Sacramento teve nomes proeminentes como Eurípedes Barsanufo, fundador do centenário Colégio Allan Kardec e Padre Vitor Coelho de Almeida, que trouxe para a cidade os Redentoristas, que posteriormente          fundaram o Seminário do Santíssimo Redentor, através de ampla campanha coordenada pelo Padre Antonio Borges Souza.  Hoje o local abriga os Freis Franciscanos com um trabalho voltado às crianças e adolescentes. O padre Victor Coelho de Almeida era filho de Sacramento e foi um missionário redentorista, sendo um dos maiores da Congregação exercendo um papel de grande importância para sua cidade natal. Faleceu em 1987 e está sepultado dentro da Basílica Nacional de Aparecida onde trabalhou por muitos anos. Poderá vir a ser um dos santos brasileiros canonizados pela Igreja Católica.

Eurípedes Barsanulfo foi um grande educador e missionário. Fundador do primeiro Colégio Espírita do Brasil educou e evangelizou muitas crianças e adolescentes. O Colégio juntamente com o Grupo Espírita Esperança e Caridade, foi fundado nos primeiros anos da primeira década do século XX, ao qual no ano de 2005 comemorou o centenário de sua fundação. Esta obra atrai turistas religiosos de todo país, representando para a cidade uma atração histórica e religiosa de grande importância.

Eurípedes estudou no primeiro colégio oficial de Sacramento que era o Colégio Miranda, que tinha o objetivo de formar e educar indivíduos do sexo masculino. Seu diretor fundador foi o Major João Derwil de Miranda e funcionou de 1889 a 1905. Em 1902 foi fundado por um grupo de senhores o Colégio Liceu, entre eles o Dr. João Vieira de Mello, Eurípedes Barsanulfo, Teófilo Vieira, José Martins Borges e Inácio Martins de Mello. Em 1905, quando Eurípedes torna-se espírita, o Colégio Liceu perdeu grande parte de seus alunos, filhos das famílias católicas tradicionais e logo teve que ser fechado. Na década de 20 foi novamente reaberto e funcionado até 1937, quando foi definitivamente fechado. Seu fundador na segunda fase foi Ivo Edson de Matos, e nos últimos anos de funcionamento localizava-se em um prédio da Avenida Benedito Valadares, o qual foi demolido nos anos 90.

Colégio Allan Kardec no começo do século XX. Foto:  Acervo do Colégio.

Colégio Allan Kardec  nos tempos atuais,

antendo suas características originais.

Foto: Virgínia Dolabela em 2005.

Também na época de Eurípedes, existia um colégio para meninas, o Colégio Nossa Senhora do Patrocínio, fundado pela professora Ana Borges, até hoje lembrada e homenageada por sua dedicação pela educação na cidade. Um incêndio destruiu este colégio por volta de 1910.

Em 15 de agosto de 1922 é fundado o Grupo Escolar Dr. Afonso Pena Júnior, especializado no ensino primário. O prédio foi edificado pela Câmara Municipal, pelo construtor Jácomo Pavanelli, e hoje ainda é um dos principais centros educacionais de Sacramento, pertencendo à rede de ensino estadual.

A Câmara Municipal reservava uma subvenção para as escolas e existiam também na zona rural as escolas mantidas em conjunto com os fazendeiros que ajudavam no pagamento do local e professores da escola. Antes da década de 30 lideranças comunitárias, procuraram criar uma escola nos modelos da mudança esboçada nos anos 20, onde em três de março de 1933, sob a direção de César da Silva Oliveira com o patrocínio do prefeito Dr. José Ribeiro de Oliveira, funda-se a Escola Normal de Sacramento. Mais tarde com a direção da professora Maria Crema, passou para sua localização definitiva e a ampliação do prédio na Rua Major Lima. Hoje responde pelo nome de Escola Estadual Cel. José Afonso de Almeida.

Entre 1935 e 1940 em um prédio na Avenida Antonio Carlos, funcionou a Escola Noturna Paroquial sobe a direção do professor José Natálio, que atendia a adultos, jovens e crianças.

Entre aproximadamente 1975 a 1997, funcionou a Escola Técnica Comercial Maria Crema, onde se ministrava cursos técnicos em administração, contabilidade e agropecuária, em prédio construído pelo então Prefeito José Alberto Borges.

Atualmente estão em funcionamento às escolas estaduais Cel. José Afonso de Almeida, Dr. Afonso Pena Júnior, Barão da Rifaina, Sinhana Borges; as escolas de ensino fundamental municipais Dr. João Cordeiro e Luiz Magnabosco, na zona urbana; e as escolas municipais rurais Coronel Júlio Borges (Jaguarinha), Dona Maria Santana (Quenta Sol), Dr. Djalma Afonso do Prado (Divisa) e Naná Kubitschek Soares (Jaguara).  A educação infantil é atendida pela Escola Eurípedes Barsanulfo (Instituição Espírita) e pela Escola Municipal de Educação Infantil Silvia Vieira. A rede particular de ensino regular é formada pelo Colégio Rousseau e pela Escola XX de Outubro.

Casarão demolido na última década do século XX localizava-se na Avenida Benedito Valadares, onde funcionou no final do século XIX o Colégio Nossa Senhora do Patrocínio

e no começo do século XX o Colégio Liceu Sacramentano. Foto: Coleção Particular de Beatriz Alves Almeida.

Escola Estadual Dr. Afonso Pena Júnior na década de 20, com os alunos perfilados para fotografia histórica.

Foto: Bianchi do Acervo da própria escola.

Escola Estadual Dr. Afonso Pena Júnior que passou por reformas que modificaram alguns aspectos, mantendo parcialmente suas características principais preservadas.

Tombado pelo Patrimônio Municipal.

Foto: Virgínia Dolabela 2005.

As manifestações culturais do município sempre estiveram presentes através de Bandas, Fanfarras, Conjuntos Musicais, Grupos de Teatro, Folia de Reis, Congos, Moçambiques, Capoeira, Desfiles de Blocos e Escolas de Samba no Carnaval e nas comemorações de 1º De Maio, onde se realiza tradicional cavalgada.

Podemos assim citar alguns nomes como a Banda do Liceu Sacramentano, a Banda do Colégio Miranda, a do maestro Quinzinho, e, hoje a Banda Lira do Borá. Nos conjuntos musicais tínhamos o Líder, os Corujas e os Tremendões, hoje contamos com Cássio e banda, o Grupo Momento, entre outros.

As Folias de Reis realizam suas festas durante o ano com o Encontro Regional de Folia de Reis em maio e o Encontro Municipal de Folia de Reis em outubro.

O Encontro Regional de Congos e Moçambiques que acontece em outubro, reverencia N. Sra. do Rosário e São Benedito, reunindo grupos de Minas e de São Paulo, em uma festa de muita religiosidade, tradição e cultura.

Os tradicionais desfiles carnavalescos contam com as escolas 13 de Maio, Beija Flor, Unidos do Areão e Acadêmicos do Borá, além de diversos blocos. A cavalgada realizada no Primeiro de Maio, em comemoração ao dia do trabalhador, atravessa toda a cidade com a Padroeira da Nossa Senhora do Patrocínio do Santíssimo Sacramento, Nossa Senhora Aparecida e o Santo Padroeiro dos trabalhadores São José, com cavaleiros, carros de boi vindos de várias comunidades rurais, tratores, motos, caminhões e demais veículos.

As principais atividades econômicas sempre foram à agricultura e a pecuária. O arroz e o café eram os principais produtos exportados pela estrada dos bondes elétricos até o estado de São Paulo. O município tinha extensas quantidades de terras, mas foi perdendo aos poucos com a emancipação de vários distritos que se transformaram em cidades. Em 1911 perdeu Conquista e São Francisco da Ponte Alta pela lei nº. 556, e posteriormente, Tapira e áreas para São Roque e Delfinópolis.

Com a desativação dos bondes elétricos a cidade passou por poucas transformações, mas foi crescendo devagar no ritmo lento das pequenas cidades mineiras. Em 1964, foi fundada a empresas  “Laticínios Scala” que é importante indústria na cidade, gerando empregos e vendendo seus produtos para todo território nacional, principalmente para grandes indústrias alimentícias, como a Sadia e a Perdigão.

. Os Laticínios Scala nasceram de um empreendimento do Sr. Leonildo Cerchi que começou comprando queijos nas fazendas e revendendo-os para grandes cidades. Depois passou a comprar o leite do fazendeiro e fazer o queijo como a mussarela, prato, minas, parmesão, requeijão e manteiga. Após seu falecimento seus filhos continuam os negócios, expandindo e diversificando, como a implantação de Indústria de ração para gado.

Em meados de 70 e começo da década de 80, houve um avanço maior no progresso de Sacramento com o prefeito José Alberto Bernardes Borges. Jovem e dinâmico construiu centros de saúde, trouxe iluminação a vapor de mercúrio, estendeu a rede elétrica, implantada em 1964 por José Zago Filho, então prefeito na época. Construiu a Casa da Cultura com a Biblioteca Municipal, e várias escolas na zona rural e urbana. Institui os símbolos do município com a criação do Hino, o escudo e a bandeira. Saneou ruas, implantando vários trechos de rede de esgoto e água canalizada. Construiu pontes e mata-burros na zona rural, calçou e asfaltou ruas, implantou a rodovia asfaltada para Uberaba e Conquista, construiu o ginásio de esportes “Marquezinho” e ampliou a rede bancária na cidade.

O Prefeito José Alberto modernizou a cidade, em suas várias gestões, criando formas para preservar a memória como o Museu Histórico e o Arquivo Público. Em suas gestões deu a Sacramento uma importante infraestrutura, criando melhores oportunidades para os prefeitos que vieram posteriormente.

A Gruta dos Palhares também sempre foi um ponto turístico, trazendo turistas de várias cidades, inclusive personalidades nacionais como Santos Dumont e Monteiro Lobato.  Localizada nos últimos contrafortes da Serra da Canastra, margem direita do caudaloso rio Grande, importante local espeleológico que abriga uma gruta de arenito, recebeu muitos pesquisadores e cientistas.  Hoje abriga uma infra-estrutura para atender o turista, com restaurante, piscinas e lagos.

O século XXI chegou e com ele novas indústrias como as madeireiras e a fabrica de bolsas Sak's, fundada por um filho da cidade, José Renato, que fornece brindes e bolsas para todo o Brasil. A Sak's começou como uma pequena empresa no final de 80 e hoje expandiu suas instalações com nova e moderna indústria no bairro João XXIII, além de unidades em outros quatro municípios.

A área reflorestada na década de 70 pela RESA com pinus e eucalipto, proporcionou a vinda de várias indústrias de transformação, com grande parte da produção exportada para vários países.  

O setor da agropecuária ainda é o mais tradicional na economia do município e até hoje contribui com grande produção de grãos (soja, milho, café), cana de açúcar e significativo rebanho bovino para corte e leite.

A principal produção e fator de arrecadação para o município são as Usinas hidroelétricas construídas a partir de 1970: UHE de Jaguara, UHE de Estreito, além de parte da represa da UHE de Igarapava, localizadas no Rio Grande; PCH Pai Joaquim e PCH dos Macacos, além de parte da Represa da UHE de Nova Ponte, no Rio Araguari, além da Usina Cajuru, já citada no Ribeirão Borá.

Em 1970, com a implantação do Parque Nacional da Canastra, o município de Sacramento passou a ter em seu território uma importante área de preservação de campos e cerrado, o que tem contribuído para o aumento do fluxo turístico, juntamente com o turismo religioso e o turismo histórico.

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